Um paquistanês em Passo Fundo: conhecimento, cultura e atuação profissional

Acadêmico de Ciência da Computação da UPF, Abbas Zahid saiu de uma das maiores cidades do mundo para realizar intercâmbio em Passo Fundo e, há dois anos, adotou a cidade como sua casa

 
Foto: Carla VailattiPaquistanês Abbas Zahid cursa o último ano de Ciência da Computação na UPF

A oportunidade de conhecer uma nova cultura motivou o paquistanês Abbas Zahid a realizar um intercâmbio que conciliou estudos e trabalho. Acadêmico de Ciência da Computação da Bahria University, de Karachi, no Paquistão, ele buscou novas experiências e, por meio da Aiesec, enviou currículos para Alemanha, Hungria e Brasil. Selecionado por uma empresa passo-fundense, Abbas optou pelo Brasil e chegou à cidade em 2013, para o período de um ano de aprendizado e atuação profissional.

Para dar continuidade à formação superior, escolheu a Universidade de Passo Fundo (UPF), onde hoje cursa o último ano de Ciência da Computação. “Quando comecei a procurar pelo intercâmbio, a intenção era ficar um período em outro país, na minha área, para aprender algumas coisas diferentes, por que só estava sabendo teoria, mas não prática. Também queria conhecer outras pessoas e viver outra cultura”, conta ele.

Nos primeiros seis meses, a língua foi a principal dificuldade: “Não falava nada. Depois as coisas mudaram e acabei aprendendo português. Demorei seis meses para gostar da cidade e da língua”, comenta Abbas, que tinha, originalmentem, intenção de fazer um ano de intercâmbio e retornar ao seu país, no entanto, aos poucos, foi se habituando ao Brasil e garantindo a sua permanência na cidade. Profissionalmente, atuou por um ano e 10 meses na empresa que o selecionou para intercâmbio e, atualmente, é desenvolvedor de sistemas em outra empresa, na qual atua há sete meses.

Intensas mudanças
A mudança de cidade foi um dos principais contrastes sentidos pelo paquistanês, natural da cidade de Karachi, que saiu de um conglomerado urbano maior do que São Paulo, para a realidade de uma cidade interiorana. “Morava em uma cidade grande e Passo Fundo é pequena, mas as pessoas são muito boas, gostei muito das pessoas daqui”, declara Abbas, explicando que os professores que conheceu na faculdade o apoiaram e, por isso, ficou no Brasil. “Pensei que seria bom para mim ficar aqui estudando e trabalhando”, afirma.

Para permanecer na cidade, Abbas fez transferência e já se encaminha para a conclusão do curso na UPF. “Os professores são muito legais, eles entendem que tenho dificuldades e ajudam bastante”, aponta o acadêmico, que ainda encontra na língua sua principal dificuldade “Falo português, não sei como aprendi, mas para escrever tenho dificuldade, não gosto. Aprendi porque precisava me comunicar. Escrever é difícil”, comenta, explicando que, para suas atividades profissionais, utiliza principalmente o inglês.

De Karachi para Passo Fundo
Foi em Karachi que Abbas deixou a família, pais e dois irmãos, que, no final deste ano, devem receber sua visita. Situada próximo da costa com o mar Arábico, no oceano Índico, e das margens do delta do rio Indo, a cidade de Karachi é uma das maiores do mundo, com mais de 20 milhões de habitantes. Segundo Abbas, no local, a língua natural é o urdu, que tem escrita semelhante ao árabe, porém, a língua oficial é o inglês.

Para ele, a visão de Brasil era outra e surpreendeu-se com o que encontrou no país. “A imagem do Brasil era diferente, assim como para os brasileiros, a visão do Paquistão é diferente. Eu acreditava que aqui era floresta, havia animais. Somente ao chegar aqui é que percebi que isso não era verdade e que eu não sabia muitas coisas”, comenta. Abbas também destaca que muitas pessoas pensam o Paquistão com a ideia de guerra e problemas. “Precisa ir lá para ver. É muito diferente. Algumas cidades têm problemas pela divisa com outros países, mas, na cidade onde moro e na capital, temos muitas coisas bonitas, muitos lugares para turismo, muitas montanhas, temos mar e uma história que é bem antiga. As pessoas sabem pouco sobre o Paquistão”, ressalta.

Sobre o futuro, ele ainda faz previsões. “Não sei sobre o futuro, mas Passo Fundo é legal. Se eu encontrar possibilidades aqui, ficarei, se encontra-las em algum outro lugar, eu vou. Gosto daqui, é muito boa a cidade”, avalia Abbas, que se casou com uma gaúcha. Ele já viajou para diferentes cidades e referenciou Floripa e Curitiba como duas das suas preferidas. “O Brasil é um lugar bom para morar, como muitos países. Não tem oportunidades em outros países como tem aqui. O Brasil tem muitas coisas erradas, mas as oportunidades aqui são boas. Se quero ficar bem, é preciso trabalhar e correr atrás”, conclui.

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