Entrevista - O fenômeno La Niña e suas consequências

De acordo com especialistas em climatologia, no trimestre agosto, setembro e outubro de 2010 as características do fenômeno La Niña estarão bem evidentes. Para falar sobre o assunto e analisar os reflexos do mesmo, a assessoria de comunicação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim entrevistou Fabio Sanches, 37 anos (foto), mestre em Ciências Ambientais pela Universidade de Taubaté/SP e professor na área de Climatologia e Hidrologia na UFFS, em Erechim.
UFFS – O que é o fenômeno La Niña e como ele ocorre?
Prof. Fabio – La Niña pode ser considerado como um efeito contrário do El Niño. Sua ocorrência não está vinculada necessariamente ao El Niño. Quando temos a conjunção do efeito de ambos os fenômenos, no período de maio a agosto, a condição de aridez se intensifica. Para nós da região Sul, o efeito La Niña traz baixas temperaturas e uma mínima precipitação de chuvas. Isso porque as massas de ar úmido acabam passando com maior freqüência, porém de forma mais rápida. Deslocam-se em direção ao litoral nordestino brasileiro, levando chuvas para aquela região. Tornam, assim, o Sudeste e o Sul um ambiente mais seco. Essa é a principal conseqüência do La Niña. Acredito que nós não estamos sob a influência direta deste, uma vez que está ocorrendo um inverno essencialmente úmido, com precipitações de chuva acima do comportamento normal para essa época.
UFFS - Qual a diferença com o fenômeno El Niño?
Prof. Fabio – O El Niño consiste no aquecimento das águas do Oceano Pacífico ocidental em função de ventos que deslocam essa massa de ar superficial e quente em direção às terras próximas à Austrália, Indonésia e Nova Zelândia. Isso faz com que as águas frias do fundo do Oceano Pacífico, na margem oriental da América do Sul, se elevem e fiquem na superfície do Oceano. Dessa forma, emerge grande quantidade de nutrientes, o que contribui para a atividade pesqueira na costa Oeste da América do Sul. A atuação do El Niño, nos meses de novembro a janeiro, faz com que as massas de ar frio que provêm da região Antártica interfiram e mudem um pouco o comportamento climático. Na região Nordeste do Brasil, o verão, que é a estação chuvosa, apresenta baixos índices pluviométricos, enquanto no Sul e Sudeste as chuvas mostram-se mais elevadas do que o normal. É comum, nos anos de ação do El Niño, as regiões Sul e Sudeste apresentarem problemas de enchentes. Enquanto este fenômeno ocorre no verão (excesso de chuvas no Sul e Sudeste), o La Niña se manifesta no inverno (frio e seco no Sul do Brasil).
UFFS – Que outras conseqüências o La Niña pode trazer?
Prof. Fabio – O fenômeno tem interferências diretas na agricultura, uma vez que o Brasil é um grande produtor agrícola. Influencia tanto no plantio quanto na colheita de diversos produtos como a cana-de-açúcar, o café, a soja, frutas e outros. Quando há essas alterações climáticas, parte da produção agrícola fica comprometida. Com a redução da produção, normalmente ocorre a elevação de preços dos gêneros alimentícios. Os fenômenos climáticos também podem comprometer a própria qualidade desses produtos. Qualquer alteração atmosférica promove mudanças diversas e acaba interferindo no comportamento das pessoas. Com a ocorrência de longos períodos secos, sob o efeito do La Niña, a baixa umidade do ar também pode causar alguns problemas respiratórios na população. Com isso, aumentam as filas nos hospitais e nos postos de saúde, sobretudo de pessoas mais sensíveis como idosos e crianças.

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