Em Getúlio Vargas aposentado preserva acervo de imagens raras

O morador da casa número 375 da Rua Candido Cony completou 88 anos no último dia nove de março. O sexto e último dos seis filhos do casal Alcebíades e Amália Fontana Bianchi, Antônio Arnaldo Bianchi nasceu duas semanas antes da instalação do município de Getúlio Vargas ocorrida no dia 24 de março de 1934.




Fotos: Divulgação AFR






Aposentado da Secretaria de Estado da Fazenda, aonde ingressou por concurso público no cargo de Técnico do Tesouro, o Seu Arnaldo, como é chamado, recebe com frequência pesquisadores, estudantes, professores e amigos em busca de informações acerca da história local. É raro o visitante sair sem respostas, e na maioria das vezes elas são enriquecidas por fotografias, recortes de jornais e revistas da época que compõe o acervo do anfitrião.

Ao invés de um vaso de flores a mesa da sala de jantar da residência é coberta de álbuns de fotografias e pastas com documentos. Como as visitas são frequentes nem todo o acervo é recolocado de volta na estante, que também acomoda discos de vinil, CDs, livros e um grande número de filmes em VHS. O gosto pela fotografia vem de longa data e se acentuou após o falecimento da esposa Rosa, ocorrido há doze anos.

Durante quase duas décadas o casal trabalhou no Cine Teatro Vera Cruz, ele como gerente, ela no bomboniere. O gosto pela sétima arte vem desta época, e em Getúlio Vargas o auge da tela grande ocorreu a contar da década de 1940 e se arrefeceu meio século depois, com o advento da televisão e em seguida com as vídeos-locadoras. Com sessões diárias, matiné e duas sessões nas noites de domingo, o cinema localizado em frente à Praça Flores da Cunha e ladeado por cafés, bares e lojas de roupas e calçados, tinha capacidade para 700 pessoas. Ele recorda que dependendo do filme, citando como exemplo os épicos “Era uma Vez no Oeste, Os Dez Mandamentos, Coração de luto, O Dólar Furado...”, os ingressos se esgotavam rapidamente.

Além das projeções o palco do Cine Teatro Vera Cruz recebia com frequência apresentações de artistas e grupos musicais do circuito nacional e até mesmo internacional. Ao revelar o fato se dirige até a estante e localiza alguns discos de Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, grupo de MPB que fez sucesso no Brasil e exterior na década de sessenta do século passado. Com o baile programado para o final da noite no Clube Aliança Moisés Cardoso Neves e o coro de vozes negras femininas e masculinas, que integrava Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, se apresentaram no cine local para o deleite do público. Saudosista, lamenta apenas que nenhuma fotografia foi tirada durante a apresentação.  

Entristecido cita que algumas pessoas não valorizam sua dedicação à coleção de fotografias, que incluí também flâmulas, cartões de participação de nascimento, casamento e também de óbito. Diz ficar triste quando ouve vez por outra “o que tu queres com essas velharias”. E logo em seguida revela a satisfação de disponibilizar seus conhecimentos e acervo aos interessados, inclusive para profissionais da imprensa. Otimista, pensa que um dos filhos, Leandro e Anelise, ou talvez um dos netos, dê continuidade.

Os diferentes estilos arquitetônicos de casas residenciais e comerciais, desde o início da colonização ocorrida no ano de 1910. podem ser conferidos na coleção.. De igual modo as Igrejas e Templos, os eventos sociais e culturais, os clubes e times de futebol, a Praça Flores da Cunha, as escolas e educandários, as ruas e avenidas, e até tragédias, como as enchentes, capturadas pelas lentes de fotógrafos profissionais e amadores. As imagens revelam as transformações da cidade, e também da sede do antigo Bairro Estação Getúlio Vargas e dos Distritos de Erebango, Ipiranga do Sul e Floriano Peixoto, emancipados ainda no século passado.

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