II Fórum Norte Gaúcho do Milho apresentou

Getúlio Vargas foi sede, na sexta-feira, 17 de julho, do II Fórum Norte Gaúcho do Milho. Realizado no Centro Comunitário Centenário, durante todo o dia, o evento, que contou com a presença de mais de 230 produtores rurais, engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e acadêmicos, tinha como objetivo a troca de informações sobre a cadeia produtiva e estratégias de manejo da cultura do milho e a proposição de sistemas sustentáveis e lucrativos de produção. Um dos temas que mais chamou a atenção foi sobre as tendências do mercado para a safra 2015/2016.

Luís Eduardo Viela Salgado, um dos conferencistas do evento. (Foto Divulgação AFR)
Participaram da mesa de abertura do evento representantes das entidades promotoras do Fórum: o prefeito em Exercício de Getúlio Vargas, Maurício Soligo; o presidente do Sindicato Rural de Getúlio Vargas, Sidnei Beledeli; o presidente da ACCIAS, Luiz Carlos da Silva; o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Getúlio Vargas, Ademar Rigon; o representante da Associação dos Engenheiros Agrônomos da Regional Getúlio Vargas; o vice-presidente do Sicredi Estação, Ademir Simioni; o Diretor Executivo do Sicredi Estação, Roberto Fiumi. Falaram em nome da comissão organizadora o diretor executivo do Sicredi Estação, Roberto Fiumi, e o prefeito em Exercício, Maurício Soligo. Ambos enalteceram a importância da realização do II Fórum Norte Gaúcho do Milho, agradeceram a presença de todos e, especialmente das empresas patrocinadoras: Dekalb, Syngenta, Pioneer DuPont. Sementes Agroceres, Mosaic e Sicredi Estação.

A primeira palestra foi de Engenheiro Agrônomo Mestre Felipe Zambonato, que falou sobre Fisiologia e Melhoramento de Milho. Abordou o desenvolvimento do milho, desde a pré-semeadura até a semeadura, melhoramento genético avançado, Caracteres agronômicos / mercado (Produtor), Resistência às doenças, Tolerância a stresses, Producibilidade, Estabilidade (visão olística) e Avaliação geral do Germoplasma.

O segundo palestrante foi o engenheiro agrônomo Mauro Antônio Rizzardi, que ministrou palestra sobre a importância do milho no manejo de plantas daninhas resistentes. Inicialmente falou sobre culturas resistentes ao glifosato, como soja, milho e algodão. Abordou a diferença entre tolerância e resistência, explicando que na tolerância a planta daninha nunca foi totalmente controlada pelo herbicida, e resistência é a característica de um biótipo que suporta concentrações de herbicidas superiores as suportadas pelo biótipo selvagem. Apresentou as principais resistências no Brasil ao glifosato: azevém, buva e amargoso e chamou a atenção para preocupações futuras com relação ao  glifosato. Abordou estratégias de manejo de plantas daninhas em milho, controle de plantas daninhas e encerrou falando sobre os desafios dos produtores: Evitar as perdas por mato competição; Aperfeiçoar o manejo das culturas; Integrar sistemas de rotação de culturas/eventos; Controlar plantas daninhas no estádio adequado; Preservar/proteger os herbicidas; e Conhecer os mecanismos de ação.

Na parte da tarde, falou o Agrônomo Sênior e Consultor Técnico Canais Brasil, Paraguai e Uruguai Mosaic Fertilizante, Luiz Eduardo Vilela Salgado, que explanou sobre Manejo e Nutrição para Altas Produtividades. Falou sobre os fatores de influência na produtividade, precauções de Manejo devido ao clima, manejo da nutrição, nutrientes x produtividade, como aumentar o aproveitamento do nutriente para a planta, nitrogênio em milho transgênico e outros micronutrientes.

AGRONEGÓCIO É O SETOR QUE MAIS CRESCE NO BRASIL

Encerrando o evento, foi a vez do consultor Carlos Cogo, que falou sobre a situação do milho no mundo e no Brasil, bem como do agronegócio em geral. O palestrante é um dos mais qualificados e informados palestrantes da área do agronegócio no Brasil. Segundo ele, a demanda de milho e soja cresce mais do que trigo e arroz, devido ao aumento do consumo global de proteínas, especialmente as carnes suínas e de frango, seguida da bovina. Conforme disse, não há excedentes nos mercados de carnes. Toda produção é consumida. Segundo ele, o aumento do consumo de frango e queda da carne bovina resulta em maior demanda por milho e soja. Também há aumento do consumo de pescados cultivados, que eleva a demanda de milho e soja para rações na aquicultura.

Carlos Cogo afirmou que o agronegócio é o setor que mais cresce no Brasil, que respondeu por 21,4% (US$ 506 bi) do PIB em 2014: Agricultura (68%) - US$ 343,6 bilhões e Pecuária (32%) - US$ 162,4 bilhões. O Agronegócio representou 43% das exportações, ou seja, US$ 96,7 bilhões. Gerou 29,9 milhões de empregos. De 1989/1990 a 2014/2015, a área cultivada aumentou 52%, a produção em mais de 248% e a produtividade + 129%. O Brasil no ranking global em 2015: O milho é o 3º em produção, mas é o segundo grão mais exportado.

O palestrante ainda apresentou projeções para o clima, afirmando que estamos ingressando em uma fase negativa da Oscilação Decadal do Pacífico – ODP. Enquanto o El Niño tradicional (Canônico) está ligado às águas relativamente quentes no leste do Pacífico, perto da costa peruana, o Modoki aparece na região central do oceano. O El Niño Modoki (“parecido, mas diferente”) é muito mais raro do que a forma normal do evento em ocorrências, com apenas 7, contra 32 casos nos últimos 150 anos.  Mas há outro ciclo de variabilidade climática do Pacífico que está se iniciando em sua fase negativa, que é a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), que dura entre 25 e 30 anos.  O ciclo da ODP nas fases negativas gera uma tendência que ocorra um maior número de episódios de La Niña que tendem a ser mais intensos e, simultaneamente, ocorre uma frequência menor de eventos do El Niño e que tendem a ser mais curtos e menos intensos (Modoki).

As projeções para 2015/2016 são: As atuais condições atmosféricas e oceânicas na região do Pacífico Tropical indicam que desde março está se formando uma nova ocorrência do fenômeno El Niño. Esse padrão típico pode persistir até o início do próximo verão do hemisfério sul de 2015, porém, os modelos divergem quanto ao grau de intensidade do fenômeno. Os impactos típicos no clima do Brasil são a diminuição da precipitação em áreas do Norte e do Nordeste e tendência de aumento de precipitação no Sul – as temperaturas ficam um pouco mais elevadas, diminuindo o risco de geadas. A confirmação do El Niño neste ano – ainda que seja moderado, por um lado pode ajudar no desenvolvimento de culturas como trigo e cana-de-açúcar e mitigar o risco de geadas, mas ocorrência de chuvas no período da colheita pode causar perdas no campo (principalmente para o trigo).

                EL NIÑO DEVE GANHAR FORÇA NOS PRÓXIMOS MESES

O El Niño deve ganhar força nos próximos meses, trazendo chuvas que garantem umidade para a safra de inverno.  Em sua forma tradicional, o El Niño, fenômeno gerado pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico, causa chuvas mais intensas no Sul, seca no Norte e Nordeste e temperaturas mais elevadas no Sudeste e Centro-Oeste.  Simulação feita pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe) aponta que, em julho a agosto, deve chover acima da média em boa parte do Sul, oeste de São Paulo e em grande parte de Mato Grosso do Sul - impactando as culturas de inverno, como trigo, cevada, cana-de-açúcar e café.  A duração do El Niño ainda não é consenso entre os meteorologistas, já que o quadro ainda pode mudar nos próximos meses. A duração depende muito de como se comportarão as anomalias das temperaturas na superfície do oceano - se vão continuar subindo ou se vão estacionar e retornar. Em geral, o ápice, com as temperaturas mais altas de anomalia, ocorre entre a primavera e o verão – neste ano não deve der diferente.  Nos Estados Unidos, os maiores volumes de chuvas têm se concentrado nos principais estados produtores do Meio Oeste do país (Illinois, Iowa, Indiana e Ohio).  A condição de chuvas intercaladas, por ora, diminui o risco iminente de uma quebra geral (catástrofe) da safra.  Porém, é fato que, dada a frequência e associado com as condições do solo (planícies), pelo menos deve reduzir o potencial de produção.  Ou seja, não se deve atingir resultados de safra recorde.

As chuvas deste verão no Hemisfério Norte, em partes, podem ser atribuídas a presença do El Niño.  Sabia-se que num primeiro momento o El Niño ajudaria para reduzir o risco de estiagem (problema mais comum) e se alertava para o risco de excesso de chuvas mais para o final (agosto/setembro) -> esse risco ainda permanece.  Vale ressaltar que as anomalias positivas de chuvas em junho ficam restritas aos estados de Illinois e Indiana – mas foram suficientes para interferir na finalização do plantio de outros estados.  Isso evidencia que as lavouras norte-americanas são muito sensíveis a qualquer período mais chuvoso.  A tendência para julho, agosto e setembro é de continuidade desse padrão climático observado em junho, ou seja, com chuvas acima da média climatológica.

Finalizando, fez projeções para a safra de inverno 2015  para o Rio Grande do Sul, afirmando que as chuvas continuam frequentes. O El Niño contribui para alguns episódios de chuvas fortes. Reduz risco de frio tardio. El Niño diminui risco de primavera chuvosa. E o  cenário será semelhante ao de 2014.

 

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