O impacto dos agrotóxicos na saúde humana

“A cada 100 pimentões, 94 estão contaminados com agrotóxicos”. A frase chama a atenção, porque esse é apenas um dos produtos consumidos com frequência pelo ser humano, mas existem muitos outros inseridos diariamente no cardápio do brasileiro e que também estão contaminados. Esse e outras dezenas de dados e informações apresentados durante o I Seminário Regional de Vigilância da Exposição Humana a Agrotóxicos enfatizaram a necessidade de medidas urgentes para o combate à utilização inadequada e excessiva de agrotóxicos, que estão prejudicando a saúde humana e o meio ambiente. O evento foi realizado na terça-feira (15), no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo (UPF).
 
Debate foi sobre exposição a agrotóxicos
Créditos: Natália Fávero/ON
 
O debate contou com representantes do Ministério Público, da UPF, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde e da Secretaria Estadual da Agricultura Pecuária e Agronegócios, além de depoimentos dos próprios agricultores, que também acabam sendo contaminados durante o processo de utilização dos agroquímicos. Aliás, esses produtos utilizados para combater pragas, doenças, ervas daninhas, entre outros fatores que interferem na produção de alimentos, não prejudicam apenas os agricultores, mas toda a sociedade, porque afeta os trabalhadores nas fábricas de agrotóxicos, a população que mora em torno destas fábricas e das áreas agrícolas, além dos consumidores de alimentos contaminados.
O Seminário foi promovido pela Secretaria Estadual de Saúde, através da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (6ªCRS), pelo Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/Nordeste) e pela Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast). Participaram da mesa de abertura, o coordenador da 6ª CRS, Douglas Kurtz, o secretário municipal de Saúde, Luiz Artur Rosa Filho, o promotor de Justiça, Paulo Cirne, e a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, Bernadete Maria Dalmolin.
Uso de agrotóxicos na região é preocupante
Faz sete anos que o Brasil é o número 1 do mundo em utilização de agrotóxicos. O Rio Grande do Sul é o quarto Estado brasileiro que mais utiliza agrotóxicos, perdendo apenas para Mato Grosso, São Paulo e Paraná. A região em que está inserido o município de Passo Fundo é a que mais utilizada agrotóxicos no Estado. Os dados apresentados pelo promotor Paulo Cirne, que já atua há alguns anos na luta contra o uso abusivo de agrotóxicos no Brasil, mostra que o problema é grave e está presente na mesa dos brasileiros diariamente. “Passo Fundo é um dos locais do Brasil onde mais se usa agrotóxico. É um dado negativo, mas muito se deve a cultura da soja”, revelou Cirne.
Mas não são apenas com as culturas de soja, de milho, entre outras, que o produtor precisa ter cuidado. De acordo com o promotor, os hortigranjeiros também são atingidos. “As culturas que não possuem agrotóxicos adequados, como a batata, o pimentão, as frutas, estão muito contaminados. O pimentão, por exemplo, de cada 100 pimentões, 94 estão contaminados, com o limite máximo de resíduos acima do permitido”, ressaltou o promotor.
Um dos grandes problemas está no receituário agronômico, que é como se fosse a receita do agrotóxico. O receituário, na opinião do promotor, precisa de uma fiscalização mais intensa, seja do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) ou de outras instituições, como o próprio Ministério Público, que já está organizando um trabalho nesta área no Fórum Gaúcho de Combate ao Uso Indiscriminado e Excessivo de Agrotóxicos. “Muitas vezes essa receita é concedida sem a visita na propriedade. Daí o agricultor é levado a usar um produto inadequado ou em quantidade excessiva. Muitas vezes, o agrotóxico é vendido por quem o receitou, pesando o interesse econômico de quem está vendendo o produto. O agricultor tem que ter alguém da sua confiança, um engenheiro agrônomo, pra reavaliar essa receita e usar realmente a quantidade que necessita”, destacou Cirne.
Dos 50 princípios ativos mais utilizados nos agrotóxicos autorizados no país, 22 estão proibidos nos principais países do mundo. A média anual de casos de intoxicação por agrotóxicos registrados no país, nos últimos dez anos, é de quase 6 mil por ano. Conforme Cirne, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) necessita adotar medidas mais céleres para proibir a comercialização e o uso de outros agrotóxicos ainda comercializados no país. “Alguns produtos comercializados no mercado brasileiro já não são aceitos na Europa e Estados Unidos. A Anvisa tem que agilizar alguns procedimentos para banir determinados produtos no Brasil”, sugeriu o promotor.
Agroecologia - caminhos para a autonomia e segurança alimentar
O uso indiscriminado e excessivo de agrotóxicos impactam sobre a saúde pública e saúde alimentar e nutricional das pessoas. A engenheira agrônoma e professora da UPF, Drª. Cláudia Petry, que foi uma das painelistas do evento, destacou o papel da agroecologia neste contexto. “Através do alimento, as pessoas podem ingerir os nutrientes necessários para a saúde ou se contaminar, se desnutrir ou se tornar obesas. Países desenvolvidos estão extremamente conscientes, acabando com o uso de agrotóxicos, diminuindo paulatinamente os mais tóxicos e colocando metas para efetivar a agricultura agroecológica para daqui dez anos”, informou a professora.
Epidemias de doenças da atualidade também estão relacionadas com o consumo de alimentos contaminados. “Hoje há uma epidemia de doenças modernas, desde a hipertensão, o colesterol, o diabetes até o câncer. Cada um pode fazer a sua parte, escolhendo alimentos de um agricultor que investiu na produção sem agrotóxicos ou com o mínimo de agrotóxico. Além disso, o ideal é aprender a plantar como nossos avós faziam. É uma questão emergencial de sobrevivência”, aconselhou Cláudia.
FONTE: O NACIONAL

Comentários