Aluno surdo se forma em Pedagogia na FAE

Entre os
formandos deste semestre do Curso Superior de Pedagogia da Faculdade Anglicana
de Erechim uma história chama a atenção. Amauri Muller, um dos acadêmicos que
acaba de receber o diploma, se tornou o segundo professor surdo de Erechim. Ele
conta que no ano em que ele enfrentou o vestibular, ficou surpreso ao ver seu
nome no listão de aprovados. “Eu e minha mãe vimos o meu nome na lista e ficamos
muito emocionados, porque eu fiquei imaginando como seria o meu futuro
profissional”, relata. Apesar de já ter pensado em desistir, Amauri seguiu seu
desejo de ser pedagogo e agora, formado, realiza seu sonho. “Eu queria desistir
e fazer letras-libras, mas como minha vontade sempre foi ser pedagogo, eu
continuei. Eu queria ir até o final, me esforcei neste foco e agora, estou muito
feliz”. No começo da faculdade, a relação com os colegas foi difícil pela falta
de conhecimento em Libras, mas um desafio que foi proposto a eles, motivou-os
para o aprendizado da língua. “Eles aprenderam tudo bem devagar, mas ao longo do
tempo, a comunicação entre nós começou a melhorar e nas aulas não tinha tanto a
fala e sim, a libras. Não foi uma coisa rápida, mas agora, eles já conseguem se
comunicar e pra mim, foi uma experiência muito boa, pois fui incluído
facilmente”.
Amauri conta que
sua família sempre o apoiou, mas que sua mãe foi uma peça fundamental para a
realização de seu sonho. “Ela ficava preocupada comigo e dizia que eu tinha
responsabilidades. Ela sempre esteve presente e falava que me amava mesmo eu
sendo surdo, me mostrava que eu podia ter a mesma oportunidade que os outros.
Minha mãe foi meu grande apoio”. Para se formar, os acadêmicos precisam fazer o
temido TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e com Amauri, não foi diferente. Com
a ajuda de sua intérprete Naiara Soares, que o acompanhou durante todos os
semestres, ele teve que estudar e buscar em livros para fazer o melhor na sua
apresentação. “Como tinha que apresentar o TCC em Libras, comecei estudar duas
semanas antes intensivamente, vendo as minhas expressões, o jeito que eu
apresentaria para poder argumentar na hora. A minha orientadora foi a professora
Maria Salete, que me desafiou e disse que eu era capaz. Busquei os teóricos e as
fundamentações e no final, deu tudo certo”. Amauri já trabalha na APADA
(Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos) ensinando libras para os
adolescentes e alunos da Educação Infantil e também realiza oficinas para que
eles tenham contato com outros surdos e aprendam a língua. Com a certeza de que
não é impossível realizar os sonhos, Amauri diz que “se as pessoas lerem e
buscarem o conhecimento e o desenvolvimento de suas capacidades no futuro serão
ótimos profissionais, mostrando que são tão inteligentes e capazes quanto os
demais.”
Verenice
Lipsch, Coordenadora
do Curso de Pedagogia, ressalta que com o ingresso de Amauri na faculdade, “a
FAE abriu as portas para que outros estudantes inclusos também pudessem fazer o
Curso Superior. Isso exige preparação do professor, da sua metodologia de
trabalho e também a adaptação da estrutura, mas é um desafio que nos faz
crescer. Trabalhamos com as potencialidades deles.”
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