História dos povos indígenas e afro-brasileiros em discussão na UFFS – Campus Erechim
A
segunda Semana Acadêmica
do Curso de Licenciatura
em História da Universidade
Federal da Fronteira
Sul (UFFS) - Campus
Erechim, que ocorrerá
no período de 27
a 31
de agosto
terá como tema “Educação
Afro e Indígena:
conceitos, práticas e
estudos”. A
programação tem como
público-alvo, além de
acadêmicos dos cursos
de licenciatura, professores
das redes municipais
e estadual da região.
A seguir o coordenador
do curso de Licenciatura
em História da UFFS
– Campus Erechim, Fábio
Feltrin de Souza,
fala sobre a escolha
do tema do evento.
Atualmente existe
uma legislação
em vigor
que determina
o estudo
da história
e cultura
afro-brasileira e indígena
nas escolas
de Ensino
Fundamental e Médio.
Como você
avalia o estabelecimento
desse tipo
de lei?
Fábio Feltrin
de Souza
- É importante
fazer um apanhado histórico
disso. O movimento
negro reivindicou durante
muito tempo uma lei
que obrigasse o ensino
de História da África
em todas as escolas
de Ensino Básico do
país. Essa grande vitória
do movimento negro foi
conseguida em 2003
com a lei 10.639
que tornou obrigatório
o ensino da África
e o ensino da
cultura Afro-brasileira.
Houve um substitutivo
dessa lei em 2008,
que é a lei
11645. Essa instituiu,
além da obrigatoriedade
do ensino de África
e da cultura afro-brasileira,
o ensino da cultura
indígena, da história
indígena do país.
Como nós temos essa
obrigatoriedade mas nem
todos os professores
estão capacitados para
isso, assim como nem
todos os livros didáticos
trazem a marca dessa
obrigatoriedade, trazem essa
história das práticas
culturais dos povos
descendentes de africanos,
dos povos africanos
e dos povos indígenas,
nada mais justo do
que nós, com um
curso de Licenciatura
em História dentro de
uma universidade que
se quer popular, comecemos
a pensar aqui no
campus, na região,
uma capacitação para
os professores. Não
apenas para os futuros
professores, acadêmicos
do curso de História,
mas professores das
redes municipais e estadual
aqui da nossa região.
As atividades
da Semana
Acadêmica, inclusive,
são abertas
para esse
público?
FFS - A
Semana Acadêmica é focada
para um público interno,
graduandos dos cursos
de licenciatura, mas
principalmente para os
professores das redes
municipais e estadual da
região. É um
evento de ensino de
História para todos
aqueles que pensam
metodologicamente o ensino
de História, mas também
estão lá na ponta,
na escola.
Considera importante
se determinar
essa obrigatoriedade
do ensino
da História
dos povos
indígenas e afro-brasileiros
por meio
de uma
lei?
FFS - Na
verdade, nós deveríamos
criar um hábito, uma
cultura de que
as pessoas conseguissem,
dentro das suas formações
nos cursos de licenciatura,
sobretudo na História,
enxergar essas outras
populações obliteradas
[caídas no esquecimento]
de uma história oficial.
Entretanto, a gente
sabe que, historicamente,
as populações negra e
indígena no Brasil
foram esquecidas e continuam
sendo esquecidas, tanto
que a maior parte
dos pobres deste país
são negros e indígenas.
Há um processo de
apagamento e de
esquecimento operado pelo
Estado, foi o
Estado português e depois
o brasileiro que patrocinou
a escravidão indígena e
a escravidão negra, então
me parece que nada
mais justo que um
movimento social reivindique
que o Estado reconheça
a sua culpa, digamos
assim, com relação a
esse processo nefasto de
escravidão das populações
indígenas e africanas.
É claro que uma
lei não garante nada,
ainda mais no Brasil,
mas é um marco
para que nós comecemos
a pensar, para que
comecemos a discutir
e ver que existem
populações à margem,
não só da sociedade,
mas do processo de
contar, do processo
de criação, inclusive,
de uma identidade
nacional, de uma
identidade regional.
O que
significa dar
ou não
visibilidade para
determinados segmentos
da sociedade
sob o prisma
da História?
FFS - A historiografia,
ou seja, as maneiras
de contar a História
são múltiplas e diversas.
Só que hoje nós
temos uma clareza bastante
partilhada por todas
as vertentes: o passado
não é algo dado,
o passado não está
em um lugar onde
nós vamos tirar a
poeira e vamos trazê-lo
à tona. O passado,
a memória, está sempre
em disputa, as maneiras
de se contar esse
passado, essas narrativas,
estão em disputa, e
é justamente dentro dessa
disputa que o
movimento negro e
o movimento indígena forçam
o estado brasileiro
a implementar uma
lei. Vamos continuar
contando a história
apenas dos imigrantes
europeus por conta
de uma narrativa
de identidade? Nós
vamos continuar reforçando
os mitos fundadores,
essas narrativas que legitimam
uma certa identidade?
Sempre que se legitima
uma certa identidade,
que se ergue um
monumento, se deixa
à margem uma série
de populações que não
entram no discurso formador.
A disputa pelo passado
é uma disputa política,
é uma disputa ética,
quando você se filia
a uma tradição,
quando você se filia
a uma certa maneira
de contar a História,
você se filia a
uma certa postura ética
e política. Por isso
a gente reforça a
Semana Acadêmica no Ensino
de História para marcar
um compromisso ético
e político do professor.
Ele vai continuar
contando as 'historinhas'
que ele aprendeu ou
ele vai problematizar
constantemente essas formações
discursivas, essas formações
de identidade?
De que
maneira essas
historiografias transformam
o cotidiano?
FFS - A gente costuma
dizer que a História
não trata do passado,
ela trata do presente.
Isso pode parecer paradoxal,
mas a lógica é
que são os problemas
que emergem no presente
que nos possibilitam
outras versões do passado,
e são essas versões
do passado que vão
ajudar a gente a
conquistar cada vez
mais liberdade no presente.
Quando se traz essa
pluralidade de sujeitos
para o debate atual
a gente quer dizer
que não existe hierarquia
entre etnias, que não
existe hierarquia entre as
pessoas. Então, quando
a gente problematiza
e encara a História
dessa forma, nós vamos
construir no nosso
cotidiano maneiras mais
livres e igualitárias
de lidar com os
outros.
De que
maneira é importante
para a região
na qual
a UFFS
está instalada
trazer esses
aspectos para
o debate?
FFS - A Universidade
Federal da Fronteira
Sul (UFFS) nasce das
reivindicações de movimentos
sociais. Historicamente
a universidade, não
apenas no Brasil, mas
a instituição universidade,
no Ocidente, sempre foi
uma instituição de
elite e, no Brasil,
da elite branca. Quando
você se predispõe
a trazer a classe
trabalhadora, as classes
populares, para dentro
da universidade, sem
dúvida, está buscando
inverter uma lógica
bastante perversa no
Ocidente, sobretudo
no Brasil. É isso
que a gente vê,
não só com a
UFFS mas com toda
a política de cotas
implementadas pelos últimos
governos nas universidades
federais. É a
partir dessa política de
reparação, como a
gente costuma dizer, que
a UFFS também nasce
em uma perspectiva
popular e para
trazer esses esquecidos
para dentro dos bancos
universitários.
SEMANA ACADÊMICA DO CURSO DE
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
PROMOÇÃO: Diretório
Acadêmico
de
História
(Dahis)
Olga
Benário
da
UFFS
– Campus
Erechim
ABERTURA:
27/08
(Centro
Cultural
25
de
Julho,
19h15)
PROGRAMAÇÃO
COMPLETA:
Pode
ser
consultada no blog www.dahisuffserechim.blogspot.com.br
INSCRIÇÕES:
São
gratuitas
e
os
participantes
serão
certificados
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