A nevasca de 1965 nas lentes de um jovem fotógrafo
Os dias de sol e o calor das últimas semanas levaram os
gaúchos e catarinenses a substituir o vestuário de inverno por roupas mais leve.
A florada do ipê roxo, amarelo e branco é o indício que frio e geada só devam
ocorrer no próximo inverno. Mas houve outros invernos em que as baixas
temperaturas causaram preocupação e medo.
Há cinquenta anos, nos dia 20 e 21 de agosto, uma
sexta-feira e sábado, respectivamente, um fenômeno meteorológico marcou a vida
dos moradores das regiões norte, planalto e noroeste do RS e oeste de SC: a
maior nevasca ocorrida em 100 anos no sul do Brasil. Os flocos brancos alteraram
a paisagem nas cidades e nos campos, e a neve foi se acumulando com o passar das
horas.
Com uma altura de 730 metros, o município de Getúlio
Vargas foi coberto de branco, e como em outras cidades, a mudança da paisagem
despertou curiosidade. Além da admiração com o fenômeno, a confecção de bonecos
nos pátios das residências e as brincadeiras com a neve marcaram o primeiro dia.
As notícias recebidas pelas ondas do rádio de que muitas áreas estavam isoladas
e poderia haver desabastecimento de combustível e alimentos, motivou mudanças no
comportamento.
O ´fotógrafo Dorvalino Bernieri na Pracinha de Brinquedo, onde trabalha diariamente. (Foto: A Folha Regional) |
O tempo não apagou as lembranças dos que participaram dos
acontecimentos ocorridos na chamada “nevasca de 1965”. Os relatos descrevem o
medo no período da noite, e do acúmulo da neve nos telhados, os estalos
provocados pelo peso e o temor do desabamento. Munidos de ripas, serrotes,
pregos e martelos, os homens confeccionavam rastelos para retirar a neve de cima
das casas e prédios.
Os jornais da época registraram os fatos que marcaram
aquele inverno. As fotografias, na quase totalidade, são em preto e branco, já
que, na época, o processo de revelação e cópia em cor só era realizado em
grandes centros. Recém-iniciado na arte da fotografia, o jovem Dorvalino
Bernieri é o autor das imagens que imortalizaram a Praça General Flores da Cunha
coberta pela neve. E, em segundo plano, o Cine Teatro Vera Cruz, Associação
Comercial, Café Central, Prefeitura de Getúlio Vargas, Colégio Cristo Rei,
Igreja Matriz e Banco do Comércio, com seus telhados realçados pelo
branco.
Dos 66 anos vividos, Dorvalino Bernieri se dedicou 51 à
fotografia. Nascido no Distrito de Ipiranga do Sul, acompanhou a família para a
sede do município no ano em que o pai foi contratado como carpinteiro pela
Cervejaria Serramalte. Para ser admitido na Foto Canela, foi incumbido pelo
proprietário, Norberto Hoffman, a fotografar a Igreja Imaculada Conceição e a
Casa Canônica. Ainda no laboratório, durante a revelação do filme, foi admitido.
O enquadramento havia ficado perfeito, ficando de fora apenas os para-raios
instalados no alto das cruzes das duas torres.
A conversa com o autor das duas fotografias descritas no
parágrafo anterior ocorreu na Pracinha de Brinquedos, onde trabalha desde 2009.
Dono de uma memória invejável, falou sobre sua carreira. Sobre agosto de 1965,
recorda que somente dois negativos estão preservados no seu acervo, e que os
demais se perderam. E ainda, que os registros feitos da neve com um filme
colorido nunca retornaram do laboratório, em São Paulo.
Sem ser nostálgico, recorda da vida dedicada à
fotografia. Do apoio recebido dos colegas Alcino Dall’Igna e Jeidir Secco,
quando abriu a Foto Madri. A depressão não o afastou da fotografia. As máquinas
analógicas foram substituídas pela digital utilizada quando chamado para
fotografar na Igreja Matriz Imaculada Conceição. Dono de um grande acervo de
fotografias, não esconde a preferência pela série feita no longínquo ano de
1965. “Entre as milhares de fotografias que fiz ao longo das décadas, as do
centro de Getúlio Vargas estão entre as
preferidas”.
Por fim, contou que, para garantir o enquadramento
adequado, subiu até o terceiro andar do Hotel Central, onde hoje está localizado
o Edifício Dücker. E que da janela de um dos quartos conseguiu o ângulo desejado
para então fazer as fotografias. Elas podem ser encontradas entre as inúmeras
imagens da nevasca de 1965, disponíveis no Google.
Texto: Neivo A T Fabris
Publicado no jornal A Folha Regional, edião de 28 de agosto de 2015.
Texto: Neivo A T Fabris
Publicado no jornal A Folha Regional, edião de 28 de agosto de 2015.
Eu morava aí nessa época, me lembro até hoje...saudades.
ResponderExcluirLindas fotos! Belas recordações e um texto emocionante!
ResponderExcluireu vi de perto na época eu tinha quinze anos muito pobre náo tinha nem um calçado fechado a náo ser um chinelo de dedos mais sobrevivi
ResponderExcluirOla,,, as tres da madrugada meu pai me tirou da cama pra ver que estava acontecendo,, minha mae reclamou cuidado as crianças vão pegar ,o pai me enrolou num cobertor e com farol me levou pra ver a neve ,tinha uma carroca era uma bola de neve , e caia flocos muito grandes parecia uns panos ,,,eu tinha de 4 pra 5 anos ,pra ficou na história, o pai fazia bastante fogo pra esquentar a casa ,,, foi legal boa lembrança,
ResponderExcluirEssa foto,foi tirada no Hotel Central,no terceiro andar. Esse Hotel à época, era administrado pela minha Mãe. Lembro bem desse dia. Tinha 7 anos.
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