Mecanógrafo: uma profissão em extinção?
Na atividade há mais de 40 anos Jorge
Luís Marafon segue no ofício
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Concerto de máquinas de calcular e escrever, dividem o cotidiano de trabalho com as impressoras Fotos: AFR |
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Marafon em sua sede própria na rua Eduardo Barreto Viana |
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Anúncio para jornal da marca Olivetti, que era uma das opções de presentes para os filhos |
Questionado sobre as lembranças daquela época, Jorge Luís fala das amizades que fez e mantém desde então. Conta que para o serviço de revisões periódicas feitas nas próprias empresas, como a Serramalte, curtumes Riograndense e Erê, Bolsas Garça, Cotrigo, agências bancárias, as ervateiras Petry e Lohmann, Prefeitura de Getúlio Vargas, entre outras, eram necessários vários dias, muitas vezes uma semana inteira. Também eram atendidas as Escolas de Datilografia, dentre elas as do Colégio Santa Clara, Escola Profissional Santa Terezinha, na Estação, e Olivetti, instalada numa casa localizada na Av. Severiano de Almeida em frente ao Zadra.
Em 1981, quando completou 26 anos, Jorge Luís foi incentivado a abrir seu próprio negócio, e Getúlio Vargas foi o local escolhido. O primeiro endereço da Mecanográfica Marafon foi um sobrado de madeira, recentemente demolido, localizado na esquina da Av. Severiano de Almeida e Rua Alexandre Bramatti. Ele conta que praticamente todas as empresas do município, e muitas das cidades vizinhas como Sertão, Tapejara, e Sananduva, lhe abriram as portas. Na conversa mantida com a reportagem relatou que gerentes das agências locais do Banco do Brasil e da Caixa Federal, depois de transferidos para outras regiões, faziam questão de contratar seu serviço, citando entre elas as cidades catarinenses de Mondai e Caibi.
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Jorge Luís Marafon junto a uma das prateleiras da oficina com máquinas e equipamentos diversos |
Vivo na memória dos brasileiros o nome Olivetti virou símbolo de máquina de escrever e calcular. A empresa fundada na Itália no inicio do século XX instalou uma fábrica no Brasil em 1952, e ao longo de meio século vendeu mais de 10 milhões de unidades. Questionado sobre este período de ouro da Olivetti, Jorge Luís Marafon revela que ocorreu entre os anos de 1960 e 1980, período em que a que foram lançados novos produtos, dentre os quais a manual portátil Lettera 32 Linea 88 e 98, as elétrica Práxis 48 e Tekne 3, seguidos dos modelos Teckne 4, 6 e 7. E de 1989 em diante foram à vez das máquinas de escrever do tipo eletrônicas com escrita de margarida e cartuchos de fitas e corretivos. Dentre as de calcular, os modelos de mesa Logus 41, 42 e 862.
Quando se estabeleceu na sede própria na década passada a razão social da empresa já havia sido alterada para Informática Marafon. Desde o primeiro endereço até o atual, atendeu em diferentes logradouros no centro da cidade. Do inicio da década de oitenta do século passado, quando se estabeleceu na cidade, foram inúmeros os funcionários que passaram pela oficina. Questionado se algum seguiu a profissão, respondeu que não, justificando que o mercado da informática acabou seduzindo os mais jovens. Buscando se adequar as necessidades, como por exemplo, atender as empresas que precisaram adotar o relógio com cartão ponto, foi buscar em Caxias do Sul a qualificação necessária.
Em que pese ter buscado formação para assistência a equipamentos de informática, num período em que eram raros os profissionais do ramo, optou por se especializar em impressoras. Nos últimos anos, a maior fatia do faturamento da empresa provém das impressoras, independentemente da marca, modelo ou tipo. Muitos dos profissionais que dão assistência a computadores e notebook orientam seus clientes que necessitam limpeza, conserto e manutenção de impressoras os serviços da Informática Marafon.
A recente aposentadoria não mudou os hábitos do profissional. De segunda-feira a sábado, já com o chimarrão pronto, ele abre as portas da oficina para receber a habitual visita dos amigos. Até por volta nove e meia, quinze para a dez, quando os acontecimentos do final de semana ou do dia anterior pautam a conversa, clientes chegam com máquinas e equipamentos para o conserto, e outros para busca-los. O restante da manhã, e ao longo da tarde, Jorge Luís Marafon permanece em frente à bancada, executando com afinco a profissão que escolheu á quase meio século.
Para a geração que antes do primeiro dia de escola domina com maestria o computador e o telefone celular, as marcas Olivetti, Facit e Remington são ilustres desconhecidas. Muitas destas antiguidades, manuais ou elétricas, são encontradas nas prateleiras do estabelecimento. De igual modo os mimeógrafos que eram utilizados pelos professores, e substituídos há muito pelos fotocopiadoras. Uma situação recorrente aconteceu no dia anterior à entrevista, quando um cliente telefonou para saber se havia para venda uma calculadora elétrica, da marca Olivetti. Além de disponível, havia a disposição diversos modelos, revisados e prontos para o uso. E ainda por cima com a tradicional garantia que só os bons profissionais podem oferecer.
Que bacana, aqui em Campinas também tenho a minha assistência técnica em máquinas de escrever, meu mecanografo trabalha a 59 anos consertando máquinas de escrever
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